quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Redes Sociais.com - Entrevista à revista Faces


1 – Como você vê a transferência do espaço público para o meio digital? 
Vejo com expectativas de melhoras significativas na gestão. Com investimentos em plataformas digitais, é possível organizar a administração pública, por exemplo, prestar contas ou mesmo acompanhar o andamento de obras e investimentos. E uma administração organizada, sem dúvida, permite muito mais desenvolvimento. 
 

2 – Analisando fatos da história política brasileira mais recente, como a manifestação dos “cara pintadas” que mobilizou o País inteiro. Na sua opinião como seria essa manifestação em plena era digital e de redes sociais? 
Temos visto isso diariamente. A rede dá força para as causas pelas quais lutamos, permite uma divulgação maior de informação, de compartilhamento de conhecimento. Os Caras Pintadas foram responsáveis por um episódio muito importante da nossa história e caminhamos para ter manifestações como esta nas redes. Mas acredito que esse potencial ainda não esteja sendo explorado em sua magnitude, temos muito a desvendar ainda. Bons exemplos nós temos: as marchas das vadias e da liberdade, os levantes do mundo árabe e alguns na Europa. 
 

3 – Como esse fenômeno das redes sociais muda a maneira de fazer política no Brasil?
Muda na medida em que fortalece a transparência e a participação popular na tomada de decisões ou, mesmo, nos protestos e manifestação de opinião. Ou seja, os parlamentares, por exemplo, colocam-se de frente para a população, interagindo sem intermediários ou interlocutores. Eu, por exemplo, construo muitas propostas com base a opinião e no debate feito com a sociedade nas redes e nas ferramentas como o E-Democracia.
 

4 – As campanhas eleitorais tendem a tomar essa forma mais digital?
Acredito que sim. Mas essa é uma briga recente. Quando vereadora em Porto Alegre tive que brigar muito para poder usar o Orkut. Tive de provar que era ferramenta de trabalho e não lazer. Isso foi em 2005, ou seja, há muito pouco tempo. Tivemos, também, de aprovar uma lei para regulamentar a propaganda eleitoral na internet. Enfim, estamos no começo e é preciso adaptar o potencial da rede à nossa população, às características do povo brasileiro. Caminhamos para isso e acredito que cada vez mais as mídias digitais farão parte não apenas das campanhas, mas da rotina de todos.
 

5 – Houve algum reflexo disso na última eleição?
Houve um investimento muito alto, porém com pouco impacto porque a internet foi entendida como espaço tradicional de comunicação e não é. É preciso olhar especial e uma ação especial.Estamos todos descobrindo os limites da implementação de plataformas digitais nas campanhas e acredito que vamos avançar muito. A eleição presidencial colaborou nesse objetivo.
 

6 – Como os políticos brasileiros vêem isso? Estão se valendo dessa nova ferramenta de mobilização de massas?
A maioria está usando. Nem todos da melhor forma possível, mas cada um a sua maneira. Eu vejo as redes como uma extensão do nosso trabalho, um espaço de diálogo e que precisa respeitar nossas características, jeito, forma de agir, pensar, nos manifestar. Tem bastante gente usando de forma muito positiva as diversas ferramentas disponíveis.
 

7 – Ações fomentadas via redes sociais podem ser consideradas ferramentas políticas?
Claro. Quer mais política que diálogo e transparência? A rede é um espaço de opinião, de debate, de argumentação. Todo lugar é lugar para fazer política, seja uma conversa numa fila de banco ou no Twitter. A política é para todos e deve ser feita por todos.
 
8 – As redes sociais podem promover mudanças e definir rumos de manifestações e alterações globais?
Sim, temos exemplos muito recentes disso. O Egito é um deles. A morte do Osama Bin Laden narrada pelo Twitter também tem uma simbologia grande. Temos de 2011, também, o caso da Espanha, da França e da Tunísia. O número vem crescendo e vai seguir essa tendência.
 

9 – Comente a relação entre as redes sociais e o espaço público como se conhecia outrora.
Esse é um meio muito dinâmico. Difícil, portanto, comparar. Vejo a evolução que vivemos de forma muito positiva. No momento em que absorvemos essas mudanças e as transformamos em parte de nossa rotina, como o Twitter, por exemplo, criamos hábitos. Cito o Twitter porque é porque é por ali que todos podem saber onde estou, qual reunião estou presente, o que está sendo debatido. Divido meu dia a dia e compartilho informações em tempo real. Há poucos anos isso não era possível.
 

10 – A sociedade está se reorganizando através da internet?
Acredito que sim e os exemplos citados acima dos países europeus, por exemplo, mostram isso.
 
11 – O que tem de positivo e negativo nesse processo?
Positivo é a interação, a troca, a transparência. Isso enriquece e fortalece a democracia. De negativo existe a fragmentação de bandeiras quando, na verdade, precisamos que o todo seja modificado.
 

12 – Ideais de liberdade de expressão encontram seu espaço dentro dessa nova alternativa de comunicação?
Sim. A liberdade de expressão é uma conquista da democracia. Mas ressalto sempre que esta liberdade tem limites e que mesmo na rede é preciso respeitá-los. Nem tudo é respaldado pela liberdade de expressão.
 

13 – Quais as vantagens desse novo modelo de mobilização?
O acesso fácil e democrático. Não é preciso uma superestrutura para se inserir numa mobilização, tampouco deslocamento. Talvez o encurtamento de distância seja uma das grandes vantagens.
 

14 – No Brasil, a nova geração tem consciência de que pode usar as redes sociais para fazer uma política conscientizada, de mobilização de massas, a exemplo do que aconteceu recentemente no Egito?
Pouco ainda, mas tem. Precisamos nos dedicar e conhecer cada vez mais a fundo essas novas ferramentas.

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